São Paulo - SP


Parque do Povo

Foto: Tati Nolla
Nome do projeto
Parque do Povo
Ano de Início
2006
Ano de conclusão
2010
Área bruta construída
116.000m²
Localização do projeto
São Paulo
Cliente
SMSP
Arquiteto Responsável
André Graziano
Equipe de Projeto
  • Ana Carolina Carmona Ribeiro
  • Andrea Cláudia Boller
  • Cynthia Guimarães Bianchi
  • Daniel Stella Castro
  • Edivaldo Lopes
  • Francisco Pansiga Junior
  • Gabriela Tie Nagoya Tamari
  • Henrique Bustamante
  • Luci Kimie Okino Silva
  • Mônica de Medeiros Mongelli
  • Myriam Tschiptschin Francisco
  • Nádia Lopes
  • Olívia Salgueiro
  • Thea Standerski
  • Vladimir Navazinas
  • William Eiji Itokasu
Colaboradores
  • Amer Nagib Moussa
  • Antonio Santiago Quintana
  • Camila Malerba Malachias
  • Diego Hosiasson Kapaz
  • Fabrizio Rastelli
  • Gustavo Jun Inafuku
  • Luiza Soares de Camargo
  • Rafael Tadeu Fuentes
  • Thais Teles Pimenta
  • Thiago Wright Van Deursen
Paisagismo
Licuri Paisagismo

GALERIA

DESCRIÇÃO

O Parque do Povo é um parque municipal projetado para a Prefeitura do Município de São Paulo – PMSP, executado em conjunto pela PMSP / Wtorre / Santander. O terreno, tombado pelo CONDEPHAAT em 1995, tem 112.000 m2 e fica na região central da cidade de São Paulo, junto à Marginal Pinheiros, entre as avenidas Cidade Jardim, Henrique Chamma e Juscelino Kubitschek. A área foi ocupada por diversas agremiações esportivas, por cerca de noventa famílias, entre outras entidades como circo e teatro que faziam uso irregular do espaço público.

A situação de ocupação irregular impedia o uso aberto do espaço pela população, pois os ocupantes faziam uso comercial dos terrenos públicos. Em 2006 a prefeitura assinou um convênio com os proprietários do terreno – a Caixa Econômica Federal e o INSS – para transformar a área em parque público. Com a posse do terreno, a PMSP, através da Assessoria Técnica de Obras e Serviços (ATOS-SMSP), desenvolveu o projeto básico de paisagismo e de planejamento ambiental, sob a orientação e responsabilidade técnica do arquiteto paisagista André Graziano, aprovando-o em seguida junto ao CONDEPHAAT e demais autoridades municipais competentes.

O projeto do Parque sempre procurou atender de forma irrestrita às questões de acessibilidade, respeito ambiental e qualidade dos espaços públicos, utilizando a vegetação como ponto de partida educativo e cultural. Dessa forma, equipamentos esportivos e recreativos do parque são adaptados para qualquer usuário, contando mesmo com um jardim de plantas para deficientes visuais, que terão a possibilidade de tocar e comer plantas aromáticas e medicinais livremente, sem assistência alheia.

Para formalizar o início da recuperação da área publicamente, foi realizada no local, seguindo o projeto de paisagismo aprovado, a primeira neutralização de carbono da cidade de São Paulo em operação conjunta entre a empresa GWA Comunicações e a PMSP através do plantio da coleção de mirtáceas nativas. Tal ação despertou interesse em outras empresas pelo parque, o que levou à formalização da parceria executiva do projeto com a Wtorre, mediante um Termo de Cooperação, o instrumento jurídico utilizado nas chamadas “adoções” de Áreas Verdes urbanas. 

Com a parceria, foi possível executar o projeto desenvolvido, contando com suas edificações (administração e sanitários), com os equipamentos esportivos, os caminhos do parque (ciclovia e pistas de caminhada), os jardins de drenagem internos (1º. Jardins de Chuva de São Paulo), as calçadas drenantes externas, utilizando-se entulho de construção civil, reciclado no próprio terreno do parque. 

Cerca de vinte e cinco mil toneladas de entulho de concreto foram beneficiadas e reutilizadas, gerando inovação técnica, minimizando emissões de gases poluentes com o transporte desse material e economizando cerca de 15% dos recursos financeiros na construção do parque (reinvestidos em vegetação e cuidados no próprio municipal), além de evidenciar uma preocupação conjunta em reciclar materiais nobres anteriormente descartados. Essa mostra de respeito ambiental aliada à sua composição paisagística são as principais marcas de Infraestrutura Verde (SBN) que distinguem o Parque do Povo dos demais em São Paulo.

O parque tem oito coleções botânicas que servem de base física para ações educativas e culturais, em especial junto às escolas ou outras instituições interessadas, mesmo que até o momento muito pouco tenha sido explorado nesse sentido pela Prefeitura paulistana. Assim, existem as trilhas de madeiras de lei do Brasil; o jardim dos sentidos que conta com ervas medicinais e aromáticas; as coleções de frutas brasileiras e exóticas; o playground com plantas trepadeiras do mundo todo entre outras. Contempla também o plantio de cerca de 1.200 árvores além de arbustos, forrações e palmeiras com grande valor ambiental e paisagístico.

A ideia básica do projeto, além de garantir o uso do espaço para lazer e recreação, foi permitir que escolas pudessem utilizar o material presente no parque para atividades educativas, contextualizando-o nos conteúdos programáticos oficiais. Seria possível, por exemplo, apreciar o pau-brasil, a cana de açúcar, a seringueira e o café e passar diversas informações “in loco” sobre os ciclos econômicos do Brasil, desde o descobrimento até os dias de hoje. Neste ponto reside sua principal vocação educacional, seja em caráter formal ou não formal, a construção de conhecimento envolvendo a história e a cultura paulista e brasileira no que se relaciona com a utilização de plantas e suas consequências ao longo do tempo.

Trata-se da aplicação prática dos primeiros conceitos de “Paisagem Educativa”, depois trabalhados pelo autor em seu Doutorado junto à Faculdade de Educação da UNICAMP, quando os estudos abrangeram o Patrimônio Cultural Rural Paulista, junto às fazendas históricas do estado de São Paulo e do Rio de Janeiro (Vale do Paraíba).

O parque foi executado mediante doações e parcerias com órgãos estatais e privados, além de pessoas físicas que por ele se interessaram e colaboraram com o projeto / obra. Assim, desde as Secretarias Municipais envolvidas (Cultura, Negócios Jurídicos, Verde e Meio Ambiente, Esportes, de Governo) e a Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos – CPTM.

Entre as empresas privadas, o Grupo Accor e a Mitsubishi Motors do Brasil (doaram cerca de 400 árvores de grande porte para o parque), a Bueno Netto S.A. (doação da 1ª. academia de aparelhos de baixo impacto do estado de SP) e a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) fez a doação do projeto de luminotécnica de todo o parque e de parte de sua execução (fase 1). 

O grupo Santander foi o segundo parceiro de grande escala do parque, após a Wtorre, garantindo a complementação final das obras do parque e grande parte de sua consolidação vegetal, ambiental e paisagística, que permitiu atingir uma boa qualidade de uso para todos, basicamente resultando na condição atual do parque.

Tendo em vista o adensamento construtivo da cidade, este espaço aberto, com seus equipamentos de recreação, árvores e ambientes generosos proporcionou um respiro, uma oportunidade de relaxamento e de interação entre seus frequentadores através da prática de esportes, do lazer, da contemplação da paisagem e, por vezes, de atividades culturais e educativas ou eventos esportivos (como as oficinas gratuitas / Circuito Brasileiro de Bumerangues e as Viradas Esportivas municipais). A área, antes ocupada irregularmente, hoje se constitui como um dos mais apreciados parques da capital.

A proposta global do projeto buscou produzir um parque que permitisse diversos desdobramentos e a atuação conjunta entre entes públicos e privados, garantindo a sua sustentabilidade paisagística e financeira, sem que o projeto seja desvirtuado, mas continuamente complementado com novas iniciativas, sempre que tais benefícios sejam de interesse público e busquem ampliar o caráter metropolitano do Parque do Povo.

Os benefícios do parque implantado atingem não apenas os moradores do entorno, mas também comunidades mais distantes dadas as facilidades de acesso e o rol de atividades disponíveis existentes. Dentre estas, a 1ª. Passarela cicloviária da cidade foi projetada e construída no Parque, interligando a ciclovia da Marginal Pinheiros à cidade, passando por “dentro” da copa da maior figueira existente no local, contando com o desenho do autor na definição de sua posição.

Ainda em 2010, quando aas obras estavam finalizadas, muitas das características sustentáveis do projeto sequer possuíam nomenclaturas formais, que hoje se tornaram bandeiras da PMSP, como os jardins e chuva, o uso de vegetação nativa, o adensamento de plantio, a reciclagem de materiais e acessibilidade universal, promovendo as Soluções baseadas na Natureza (SBN) na metrópole paulistana.

É possível afirmar que a obra concretizada é evidência de que um projeto bem-conceituado pode se tornar uma obra viável ao poder público ao mostrar-se aberto, inovador e flexível, transformando um sonho coletivo em realidade.